Após uma lesão cerebral, vários aspectos da linguagem podem sofrer alterações como a fluência, compreensão, nomeação, leitura, etc. Essas habilidades podem ser prejudicadas, uma vez que a linguagem é processada em locais anatomicamente distintos e múltiplos do cérebro. Foi a partir dos estudos dessas habilidades que indicaram que, na maioria dos indivíduos, a linguagem é predominantemente dependente do hemisfério esquerdo, assim como a classificação das afasias surgiu ao se verificar que diferentes lesões no hemisfério esquerdo apresentavam diferentes manifestações linguísticas.
Nomeação: é a capacidade de nomear objetos e figuras. Sendo que as áreas cerebrais que são responsáveis pela nomeação dos objetos são: região anterior do lobo occipital e a região posterior do lobo temporal. Os nomes dos objetos são aprendidos por meio da audição, enquanto a qualidades físicas dos objetos são aprendidas principalmente através da visão. A capacidade de nomeação esta interligada a capacidade de compreensão, pois sem a compreensão do que é um certo objeto, não existirá a capacidade de nomeação.
Fluência: é a capacidade de falar de forma clara e com facilidade, pode ser classificada como a qualidade da pessoa se expressar com clareza. A não-fluência é uma das principais características das afasias de Broca, uma vez que o indivíduo compreende o que é dito, porém na hora de expressar podendo aparecer durante a fala palavras incompletas, frases sem conectivos, pausas e hesitações durante a produção da fala, comprometendo portanto a clareza do que esta sendo dito.
Compreensão: é a capacidade de entender o significado de algo, o que é dito, suas ações e efeitos. A compreensão também é uma habilidade que ajuda na classificação das afasias, como por exemplo a afasia de Wernicke em que o indivíduo apresenta deficiência da compreensão, mas sem alteração na sua expressão e fluência. Esse indivíduo é capaz de produzir palavras conhecidas pelo seu interlocutor, porém as palavras ditas não podem ser compreendidas, são apenas palavras soltas.
Repetição: a capacidade de repetir algo já dito tornou-se um dos principais aspectos na classificação das afasias. Diferentes tipos de afasias podem ser classificadas pela habilidade de repetição, como observamos nas afasias transcorticais e nas afasias de condução. Nas afasias transcorticais motoras ou sensitivas a capacidade de repetição esta relativamente normal quando comparada as afasias de Broca e de Wernicke. Já na afasia de condução, a incapacidade de repetição é a habilidade que mais chama atenção do profissional fonoaudiólogo.
Leitura e escrita: a leitura é a capacidade de decifrar o conteúdo escrito, a ação de compreender um texto escrito decifrando o código linguístico. A escrita é a capacidade de representar o que se é dito segundo um código linguístico. Para que o processo de leitura ocorra, dois procedimentos podem converter palavras da escrita para o som: um é o processo de análise visual o outro procedimento é o da leitura não semântica.
A alteração de leitura adquirida ocorre devido a uma lesão cerebral focal ou difusa e está presente em indivíduos escolarizados que não apresentavam alteração da habilidade de leitura previamente ao déficit neurológico. Já a escrita, uma complexa conexão entre os sistemas linguístico, motor, espacial e perceptual, é essencial nesta habilidade. De acordo com alguns estudos o hemisfério cerebral esquerdo é o dominante para a linguagem escrita e portanto a capacidade de escrever torna -se vulnerável quando há algum tipo de lesão neurológica. As alterações nas habilidades de leitura e escrita podem estar presentes nas afasias transcortical sensorial, motora, afasia de Broca, Wernicke e afasia global.
Fonte: Sara Martins
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