[01] Como a distonia está relacionada à doença de Parkinson?

22 de janeiro de 2024

 

Movimentos involuntários que motivam contrações musculares alteradas que modificam a postura, causam dor e dificultam a mobilidade. Essa é a descrição breve da distonia, um dos transtornos do movimento mais comuns. A distonia como doença pode apresentar diferentes origens, sendo ou de origem genética ou como consequência de outras doenças ou até uso continuado de medicações. Movimentos distônicos também fazem parte dos sintomas da doença de Parkinson e atingem cerca de 40% destes pacientes. Em parkinsonianos, este sintoma está, frequentemente, associado a doença mais avançada e ao uso prolongando da Levodopa. A seguir, saiba mais sobre esse conjunto de doenças chamadas de distonia e como podem ser tratadas e controladas com terapias, medicamentos e até cirurgia, uma vez que ainda não existe cura.

1) O que é distonia?

A distonia é um distúrbio do movimento em que o músculo – ou um grupo muscular – se contrai de forma involuntária, repetitiva, intermitente ou provocada e pode perdurar por períodos bastante prolongados. Estas contrações repetidas podem ser bastante doloridas, levam a movimentos e posturas anormais dificultando a mobilidade voluntária. Como foi descrito por uma pessoa com distonia: “como se a pessoa tivesse que lutar contra seus próprios músculos para poder fazer um simples movimento”. Para muitos pacientes, a distonia, embora seja um problema diferente, provoca sensações bem semelhantes a câimbras. É importante saber que estes espasmos têm duas formas distintas: a distonia primária, quando ela é a doença em si, e a distonia sintomática ou secundária, quando está diretamente associada a outra doença, como o Parkinson. Existem muitos tipos e diferentes localizações pelo corpo, ou até ser considerada generalizada.

2) Como a distonia age no organismo?

Admite-se que a distonia é uma falha na comunicação entre as células e circuitos cerebrais que controlam o movimento motivada por alterações em proteínas de intracelulares anômalas. Assim, para contrair um músculo, o cérebro deve inibir muitos outros músculos que não participam do determinado movimento. Assim, pela distonia, na tentativa de mover um músculo, outros também se contraem anormalmente e causam os espasmos distônicos. Existem diferentes tipos de distonias, mas geralmente os movimentos distônicos, também conhecidos como torções, geralmente, se iniciam em uma das regiões do corpo, como pescoço, rosto, cordas vocais, braços ou pernas e podem se dispersar para outras partes. Na maior parte dos casos, a distonia ocorre ou até piora durante os movimentos voluntários. Há tipos de distonia que podem ocorrer nas mãos durante o ato de escrever e nos pés ao caminhar. Essas são chamadas popularmente de ‘câimbra do escrivão’ as quais passaram recentemente a se chamar de distonias terefa-específica. A distonia também pode afetar as cordas vocais e, consequentemente, a fala, assim como os músculos das pálpebras e mais raramente os movimentos dos olhos.

Outra característica deste sintoma é se agravar em fases de estresse e fadiga ou diante de algum transtorno emocional. Ele, por outro lado, tende a diminuir durante o sono e o repouso. Muitas pessoas que convivem com distonia podem suprimir temporariamente seus sintomas usando ‘truques sensoriais’. Ou seja, ao tocar a parte afetada ou a parte adjacente do corpo, é possível diminuir o movimento distônico e temporariamente reorganizar a postura.

3) O que causa a distonia?

Existem dois tipos de distonia, a primária e a secundária. A primária é quando a condição é a única característica clínica e não está relacionada a outras doenças. Nos últimos anos diversas alterações genéticas, ou seja mutações foram relacionadas a cada sindrome distônica primária. Assim, com o aprofundamento dos estudos as distonias foram recentemente reclassificadas pelo tipo de mutações. Apesar de a nomenclatura estar em constante modificação aquela ainda mais utilizada é uma Sigla DYT1 até pelo menos a DYT25, cada variante tem uma característica específica.

Já a distonia secundária é provocada por uma outra doença ou tem outras causas possíveis. Pode ser resultado de uso continuado de medicações psicotrópicas ou psico-estimulantes ou mesmo doenças que alteram estruturalmente o sistema nervoso como acidentes vasculares cerebrais, sequelas de infecções do sistema nervoso central, lesões no sistema nervoso periférico ou ser sintoma de outros distúrbios neurológicos (como exemplo a doença de Parkinson).

4) Como a distonia está relacionada à doença de Parkinson?

Alguns estudos sugerem que quase metade dos pacientes de Parkinson apresentam, em algum momento da doença, uma forma de distonia. Pode ocorrer como um sintoma em estágios iniciais ou como efeito colateral da medicações antiparkinsonianas. Segundo os especialistas, a distonia na doença de Parkinson é muito mais comum em fases mais avançadas da doença quando o manejo das medicações fica mais difícil.

Quando o paciente apresenta períodos off (ou seja o efeito da medicação está ausente), intervalos entre as doses nos quais a medicação perde a eficácia, a distonia pode ocorrer e tende a ser aliviada com o retorno do efeito da medicação. Neste cenário, os espasmos distônicos podem ser extremamente dolorosos. A distonia também pode ocorrer quando a levodopa está no seu auge. Em geral, em fases mais avançadas da doença, ocorra tanto discinesias como distonias quando o cérebro está ‘mergulhado em dopamina’, e também ocorrer um desequilíbrio motor o que estimula os músculos de forma excessiva.

5) Qual é o tratamento para distonia quando ocorre na doença de Parkinson?

O primeiro passo é descobrir o motivo ou causa da distonia. Para isso, é importante sempre anotar quando e como os movimentos se iniciam e a intensidade deles, para que o médico especialista possa avaliar. A partir daí, há opções de tratamento, muitas vezes semelhantes ao tratamento da própria doença de Parkinson:

  • Medicamentos: Quando a distonia é efeito colateral da levodopa, por exemplo, uma alteração na medicação ou na dose pode ser sugerida. Vale também ver com o especialista como reduzir os períodos off para, assim, atenuar a distonia.
  • Injeções de toxina botulínica: Em casos de distonia focal, ou seja, em uma área específica do corpo, a toxina botulínica é eficiente para controlar e paralisar levemente esta musculatura.
  • Estimulação cerebral profunda: Para pacientes com distonia grave, a DBS (sigla em inglês para deep brain stimulation) pode ser uma alternativa. Melhora tanto sintomas específicos da doença de Parkinson já bem conhecidos como tremor, rigidez e lentificação de movimentos, como a distonia presente em parkinsonianos. A DBS, conhecida como cirurgia de Parkinson, leva estímulos elétricos a regiões específicas do cérebro.
  • Atividade física: Mais uma vez, exercícios entram como parte importante do tratamento na doença de Parkinson e no controle de seus sintomas incluindo a distonia. Ao movimentar o corpo regularmente, os pacientes ganham mais mobilidade, flexibilidade, disposição e equilíbrio. Frequentemente, pacientes se beneficiam também de aulas de dança, de ioga e de tai chi chuan – sempre com supervisão.

6) Existe cura para a distonia?

Infelizmente, não. Existem diversas pesquisas em andamento e o empenho dos médicos especialistas para atenuar os quadros graves. Mas ainda são necessários mais estudos.

7) Como a distonia é diagnosticada?

A distonia geralmente é diagnosticada por um neurologista especialista em distúrbios do movimento, mas pode ser diagnosticada por médicos e profissionais da saúde que identifiquem o padrão de movimentos característicos de distonia e, assim, possam encaminhar a um especialista. O diagnóstico adequado passa pelo histórico da doença que deve ser minucioso, incluindo a história familiar e o exame físico e neurológico completos. Testes de laboratório, estudos de imagem e até testes genéticos podem ser necessários para chegar ao diagnóstico e à respectiva causa da distonia. Infelizmente, é comum que a distonias permaneçam sem diagnóstico quando os sintomas são leves.

A eletroneuromiografia complementa, também realizada por médicos especialistas, pode auxiliar muito no diagnóstico de movimentos distônicos e diferencia-los de outros tipos de contrações e espasmos musculares e até de movimentos ocasionados por alterações psicogênicas.

8) Quando a distonia se inicia?

A idade de início é um indicador importante de se a distonia é mais provável que se espalhe para outras regiões do corpo. Distonia de início precoce refere-se a distonia que se desenvolve antes dos 21 anos. Quanto mais jovem for o paciente no início da distonia, maior a probabilidade de a distonia poder envolver outras áreas. A distonia de início tardio começa após a idade de 21.

Em pacientes com distonia primária de início tardio, a distonia geralmente começa na parte superior do corpo, pescoço, face ou braço. idade de início é um indicador importante de se a distonia é mais provável que se espalhe para outras regiões do corpo. Distonia de início precoce refere-se a distonia que se desenvolve antes dos 21 anos.

Quanto mais jovem for o paciente no início da distonia, maior a probabilidade de a distonia poder envolver outras áreas. A distonia de início tardio começa após a idade de 21. Em pacientes com distonia primária de início tardio, a distonia geralmente começa na parte superior do corpo, pescoço, face ou braço.

SAIBA MAIS SOBRE AS CAUSAS E OS TIPOS DE DISTONIA

Existem duas categorias principais de causas da distonia: primária e secundária (ou não primária). Em medicina, quando se diz que uma doença é primária, significa que nenhuma outra causa ou doença conhecidas deram origem a ela. Outro termo utilizado, que é semelhante a este, é idiopático (o qual se ignora a causa). Por outro lado, para o termo secundário, ou doença secundária, existe uma causa ou doença conhecida que causou a doença secundária.

As distonias primárias, principalmente as generalizadas que se iniciam na infância, podem ser uma condição hereditária causada por mutações genéticas. As secundárias podem resultar da exposição a certas drogas ou medicações, lesões cerebrais na vida intrauterina, no parto, na tenra infância, acidentes vasculares cerebrais, sequelas de infeções do sistema nervoso ou como sintoma de outros distúrbios neurológicos.

Fontes de informação consultadas
Professora Cristine Klein – Institute of Neurogenetics, University of Lubeck, Lubeck, Germany, Parkinsonism and Related Disorders (2014) S137–S142. Bachmann-Strauss Dystonia & Parkinson FoundationMayo ClinicInternational Parkinson and Movement Disorder Society e WebMD.  O Dr. Erich Fonoff é médico neurocirurgião, professor, pesquisador e um dos principais especialistas brasileiros em neurocirurgia funcional, com ênfase nas áreas de dor, doença de Parkinson e outros distúrbios do movimento. É professor livre-docente do departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina da USP.
Atualizado em 22/02/2021

O conteúdo que o Distonia Saúde fornece esta disponível neste Blog apenas como informação, não se destina a fornecer instruções nas quais você se apóia para determinar diagnóstico, prognóstico ou andamento do seu tratamento; Não, nos responsabilizamos pelas conseqüências de suas decisões resultantes do uso dessas informações.  Dúvidas? Consulte sempre um médico. Não assumimos qualquer responsabilidade advinda do uso das informações fornecidas aqui.

Leave a Comment