Texto: Cláudio Cordovil
Ao longo de nossa caminhada nesse blog você irá compreender que a Saúde Pública busca a promoção da justiça social. No caso das doenças raras, percebem-se iniquidades na assistência a estes pacientes que, na verdade, representam um desafio global. Iniquidades são desigualdades injustas, porque evitáveis. Para além do medicamento, cujo acesso é um direito fundamental, outros determinantes são responsáveis pela sua saúde e bem-estar.
Você verá isso ao longo dessa nossa jornada que começa aqui, com os primeiros posts desse blog. Para falarmos de injustiças, natural que você precise conhecer o que é justiça, e, sobretudo, o que é saúde como questão de justiça. São assuntos relevantes quando se aproxima o Dia Mundial das Doenças Raras. Por isso aqui, com a ajuda de Alain de Botton, vamos lhe propor um experimento mental. Com ele, ficará mais fácil você saber o que é justo e injusto, inclusive no que diz respeito à Saúde Pública. Sigamos nessa caminhada de aprendizagem mútua, que está apenas começando.
Fonte: Academia de Pacientes 2030
Leia abaixo, um pequeno trecho, do texto do Filósofo norte-americano do século XX, John Rawls.
Por: Alain de Botton
Nascido em Baltimore, Maryland, EUA, em 1921, Rawls _ apelidado de Jack _ foi exposto (e respondeu) às injustiças do mundo desde muito jovem. Quando criança, ele testemunhou em primeira mão a pobreza chocante nos Estados Unidos, a morte de seus irmãos de uma doença que ele involuntariamente transmitiu a eles, e os horrores e a ilegalidade da Segunda Guerra Mundial. Tudo isso o inspirou a ingressar na vida acadêmica: ele queria usar o poder das idéias para mudar o mundo injusto em que ele vivia. A publicação de A Theory of Justice (Uma teoria da justiça), em 1971, consagrou o nome de Rawls.
Tendo lido e amplamente discutido seu livro, Bill Clinton classificou Rawls como o maior filósofo político do século 20, e o convidava regularmente para jantar na Casa Branca.
O que, então, esse modelo de justiça tem a dizer ao mundo moderno?
1. As coisas como estão agora são claramente injustas
As estatísticas apontam para a injustiça radical da sociedade. Gráficos comparativos de expectativa de vida e projeções de salários nos levam a uma única e opressiva moral. Mas no dia-a-dia, pode ser difícil levar este injustiça a sério, especialmente em relação a nossas próprias vidas. Isso porque muitas mensagens chegam a nós dizendo que, se trabalharmos duro e tivermos ambição, poderemos ter sucesso. Rawls estava profundamente consciente de como o Sonho Americano infiltrou-se pelo sistema político e nos corações de cada um _ e ele sabia de sua influência corrosiva e regressiva.
Ele era um estatístico que sabia que os casos de pessoas que vão da pobreza à riqueza eram raríssimos, e não eram levados a sério por teóricos políticos. Na verdade, mencionar esses casos era apenas uma inteligente artimanha política para fazer com que aqueles no poder não precisassem realizar a necessária tarefa de reformar a sociedade, de cima a baixo.
Rawls entendeu que os debates sobre a injustiça e o que fazer sobre isso muitas vezes empacavam em detalhes secretos e disputas mesquinhas: o que, em outras palavras, quer dizer que, ano após ano, nada era feito. O que Rawls estava procurando, portanto, era uma maneira sucinta de mostrar às pessoas como suas sociedades eram injustas e o que elas podiam fazer sobre isso.
2. Imagine se você não fosse você
Rawls intuitivamente entendia que boa parte da razão pela qual as sociedades não se tornavam mais justas é porque aqueles que se beneficiam da injustiça atual eram poupados de precisar pensar muito sobre como seria ter nascido em circunstâncias diferentes.
Então, ele desenvolveu uma das maiores experiências mentais na história do pensamento político. E a chamou de: “o véu da ignorância“.
Quer terminar de ler? segue o link: Uma Teoria de Justiça