Pensei em podar o pé de ameixa que fica em minha varanda. Os morcegos fazem uma bagunça à noite. Perdi a área onde contemplava a lua. Fugi de seus rasantes…quando era apenas um, nomeei-o de “Bill”. Agora ele trouxe a família e amigos. Pensei em tirar as frutas maduras, até essa tarde…contemplando o calor do sol, passarinhos comiam as ameixas.
Nossa vida também é assim, não podemos cortar o que está nos incomodando, sem abrir mão de algumas coisas que gostamos. Tudo está interligado. Fica a nosso critério.
Encho o pote do meu cachorro de ração, mesmo sabendo que pombas podem visitá-lo. Meu jardim não está livre de plantas daninhas. Não decido cortá-las. O melhor talvez seja esperar. Aceitar.
Às vezes não precisamos fazer nada, apenas deixar acontecer. Como um bom time que perde de 4 a 0 e não compreende, nós não entendemos o porquê do placar. O recuo faz-se necessário para que a vergonha não seja maior. Uma hora o jogo acaba, uma hora o juíz apita. Justo ou não, o placar não irá mudar.
À espera também pode ser uma ação. Não há como impedir que as águas do rio alcancem o mar.
Viver é se adequar a situações. No final da sexta temporada de “The Walking Dead”( que eu adoroooooooooo, sou apaixonada por minissérie rsrsrs) , tudo parece perdido, pessoas amadas são mortas. Imposições são feitas pelos vencedores.
O que resta aos derrotados é retroceder, criar forças para tentar vencer na próxima, sem garantias.
Para cada recomeço doloroso uma mochila, uma sacola, uma cruz. A estrada pode ser longa, pode ser curta. O que importa é seguirmos com a esperança de dias melhores. Que fique claro que “dias melhores” não nos livram da bagagem que adquirimos no decorrer da nossa vida. Essas, com chuva ou com sol, carregaremos para sempre.
Curtir o que te agrada, suportar o que pode nos fazer mal, até que tudo se acabe. Não temos poder sobre nada.
Que a “esperança” não seja de “esperar”, mas sim de permanecermos firmes a cada passo. Viver não tem a ver com justiça.
Vou aceitar a festa dos morcegos e o canto dos passarinhos até que as frutas apodreçam. E você?!
Texto original: Álbum de Crônicas