Uma das dificuldades que nós que temos algum tipo de distúrbios do movimento/ discinesias temos é passar num dentista ou oftalmologista, por exemplo.
Assim, é extremamente importante que os profissionais com essa formação entendam as características das discinesias e tratem seus pacientes de forma humanizada, e de acordo com as suas necessidades. Além disso, alguns problemas na saúde bucal podem ser causados diretamente como conseqüências de um distúrbio de movimento como ranger os dentes e desgastá-los, e para tanto o dentista precisa identificar tais sintomas e proponha soluções que estejam dentro das possibilidades físicas de cada paciente com discinesia.
Eu mesma, que tenho Distonia cervical, já passei por várias situações constrangedoras do tipo. Por exemplo, nas vezes que vou ao dentista, preciso que dois acompanhantes me segurem meu pescoço e ombros firmemente durante todo o procedimento, porque não tenho o controle absoluto da minha musculatura cervical e os espasmos distônicos impedem o trabalho do profissional.
Já aconteceu de alguns dentistas e também oftalmologistas falarem pra mim, não precisa ficar nervosa, se calma, respira e acharem que me movimento propositalmente, sendo que nenhum de nós distônicos temos a habilidade de controlar nossos movimentos de forma consciente, principalmente quando estamos ansiosos ou estamos numa situação de stress.
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Abaixo segue entrevista com a Dra. Silvana Neves dos Santos
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Os pacientes com distúrbios de movimentos (Parkinson, AVC, Distonia, etc.), em sua maioria, têm alto índice de desenvolver cáries e outros problemas de saúde bucal. Isso porque, dependendo da patogenicidade sistêmica dos medicamentos que tomam e da dieta cariogênica, podem apresentar diminuição da saliva e alterações musculares que dificultam a higienização dos dentes, tornando-a ineficiente.
Por outro lado, nós, dentistas, saímos da graduação com quase nenhuma experiência em como fazer uma melhor abordagem para tratar esses casos, que muitas vezes precisam de uma equipe multidisciplinar.
Esses pacientes necessitam de um tratamento diferenciado. Desde o início da minha carreira, quis dedicar-me a essa área. O sucesso do tratamento depende, muitas vezes, da sensibilidade do profissional em reconhecer as dificuldades psicomotoras, para estabelecer uma relação de confiança com os pacientes e seus familiares, além de estudar caso a caso. Cada paciente é único e temos que fazer uma boa anamnese, ter contato, se possível, com o médico do paciente mesmo, para se elaborar um bom plano de tratamento e focar a prevenção para evitar, ao máximo, futuras intervenções.
A falta de coordenação motora, nos pacientes com paralisia cerebral, dificulta a higienização dos dentes, predispondo a cáries e doenças períodontais, além de muitos não conseguirem ingerir alimentos mais consistentes. Já os demais com outros distúrbios neuromusculares, a respira bucal, mastigação e deglutição inadequadas, levam a má oclusão. O trauma oclusão e o bruxismo são ocasionados devido à contrações musculares, muitas vezes relacionadas à ansiedade ou até mesmo quando se trava os dentes num momento de um espasmo, podendo levar a fratura de um elemento dentário.
Para esses pacientes ou a pessoa responsável por ajudá-los, procuro indicar a escova elétrica, que facilita a limpeza dos dentes e, quando possível, bochechos com água oxigenada de 10 volumes diluída em meio copo de água morna (uma colher de sopa), o que melhora muito os casos de gengivite E nunca esquecer de escovar a língua, onde encontramos bactérias que podem causar o mau hálito.
O posicionamento especial do paciente na cadeira do dentista é muito importante, de modo que ele fique o mais confortável possível, evitando deixá-lo deitado, para o mesmo não ter enjoo e, num caso de espasmo, acabar bronco-aspirando fluidos ou mesmo a água que passa para refrigerar o motor, ou pior, algum fragmento sólido.
Fico sempre muito atenta também às interações medicamentosas, para evitar efeitos colaterais indesejáveis, sendo importante que o paciente ou o responsável não negue informações sobre os remédios que toma.
Procuro também estar em contato com o médico que acompanha o paciente, e vejo que cada caso é único. Alguns chegam muito traumatizados por experiências ruins anteriores, por isso tento estabelecer um vínculo de confiança, compreendendo as particularidades de cada um. A anestesia geral não é um método comum de eleição, porque as condições sistêmicas dos pacientes, na maioria das vezes, contraindicam a sua utilização e, por outro lado, a extensão da intervenção odontológica não justifica tal procedimento.
Finalizando, nunca esperem sentir dores para procurar o dentista. A prevenção é o melhor método para que nunca precisemos de muitas consultas e intervenções”.
Cirurgiã dentista e endodontista, com atualização em cirurgia, parendodôntica e hipnose. Graduou-se na Universidade Federal da Paraíba e fez especialização na Associação Brasileira de Odontologia/Rio de Janeiro. Tem consultórios em Copacabana e Alcântara/São Gonçalo.