O maior medo do ser humano, depois do medo da morte, é o medo da dor. Dor física, aquela visível aos olhos, proveniente de um corte; de uma picada; de uma ardência; de uma fratura ou de uma cárie. Dor que só cessa com analgésico, no caso de ser uma dor comum. Mas, o que mais nos magoa é não ver “reconhecida” a nossa dor… Não aceitarem que estamos com dor porque não estão vendo uma fratura exposta.
A maioria das pessoas nos ignora quando dizemos que estamos com dor. Não entendem ou não ligam (fico com a segunda opção). Um estranho não entender é até normal, mas quando um familiar não nos entende… ai a dor dói mais, não é verdade!? As pessoas precisam entender que a dor física e a dita dor emocional são irmãs gêmeas, formam uma unidade, pois uma não vem nunca sem a outra; elas se colocam de costas para a outra porque se opõem.
Uma vez, conversando com a minha analista #draamandaamude, ficamos nessa discussão: o que dói mais, ter o braço quebrado ou o coração partido? Uma pessoa que foi rejeitada pelo seu amor sofre menos ou mais do que quem levou pontos no supercílio? Dores absolutamente diferentes. Mas, eu acho que dói mais a dor emocional, aquela que sangra por dentro.
Segundo as estatísticas, se não me engano, dizem que: é mais fácil ser atingido por uma depressão do que por uma bala perdida (tô duvidando ultimamente, né pessoas, mais vamos lá). Existe médico para baixo astral? Psicanalistas. E remédio? Antidepressivos. Funcionam? Funcionam, mas não com a rapidez de uma injeção, não com a eficiência de uma cirurgia. Certas feridas não ficam à mostra. Acabar com a dor da baixa autoestima é bem mais demorado do que acabar com uma dor qualquer.
Quando eu estava a busca de um diagnóstico, passei com o #drmauriciomandel no Hospital das Clínicas (HC), e ele me pediu uma ressonância magnética (RM), fiz e retornei, ai ele me disse: tenho duas noticias para você: uma é boa a outra é não tão boa;
- A primeira foi, a BOA: sua RM esta normal. Aí foi quando eu me desesperei de novo, e disse: sabe doutor uma noticia boa seria você dizer pra mim que eu tenho um tumor no cérebro, e que você vai resolver meu problema; dizer pra mim que eu vou precisar raspar a cabeça, pois você vai abri-la com uma broca, mas no final das contas eu vou ficar bem, dizer que tudo vai ficar bem, dizer que eu não vou mais precisar andar segurando a minha cabeça porque ela criou vida própria e me faz passar vergonha; queria ouvir você dizer que minhas dores irão diminuir; dizer que meu ombro vai voltar sozinho pro lugar, é isso doutor que eu gostaria de ouvir de você.
- A segunda, a “RUIM”: você precisa continuar buscando um neurologista que entenda de distúrbios do movimento (e essa foi a primeira vez que ouvi isso) e eu vou te indicar um e indicou o #drrodrigomassaud do Hospital Albert Einstein, me consultei com ele e finalmente fui diagnosticada com distonia cervical idiopática. Foi ele também quem fez meu primeiro bloqueio. Um médico maravilhoso, gentil, bondoso e calmo kkkkkkkk. E eu bombardeei ele de perguntas, quando ele disse para o Jorginho (meu marido), que doença “boa” é doença com NOME e sua esposa tem distonia cervical idiopática. Nossa, eu não me segurei, gente! Levantei e dei um beijo nele, abracei, chorei e ri, tudo ao mesmo tempo, pirei na batatinha duplamente. Finalmente, saber o que tinha e depois ver o semblante de alivio do meu marido, foi liiiindooo!
Parece absurdo que alguém possa sofrer num dia de céu azul, na beira do mar, numa festa, num bar? Parece exagero dizer que alguém que leve uma pancada na cabeça sofrerá menos do que alguém que foi demitido? Por que ai vem à pergunta que não quer calar: onde está o hematoma causado pelo desemprego? Onde está a cicatriz da fome? E olha que deste tipo de dor eu também entendo, muitíssimo bem! Onde está o gesso imobilizando a dor de um preconceito?
Custamos a respeitar as dores invisíveis. Eu me irrito muito quando estou com dor (invisível, obviamente) e as pessoas veem e dizem, tenta relaxar, tenta dormir um pouco. Falam isso, mais a cara diz tudo. E tenho CERTEZA que você sabe a quê tipo de cara estou me referindo; aquela em que lê-se: larga de ser mole, tá é com preguiça, para de se fazer de vítima, vai lavar uma louça que passa.
Balzac disse que “Não há dor que o sono não consiga vencer”. Este escritor certamente nunca sentiu a dor, a real dor, ele morreu porque trabalhava/escrevia muito, era um poeta fabuloso, um gênio, morreu dormindo, ele tomava muito café.
Eu não consigo dormir quando estou com muita dor, não tem remédio que me “apague”. Por vezes, o desespero foi tão grande que já fiz coquetel de remédios, e ainda assim eu não apaguei (não vou citar os nomes dos remédios por motivos óbvios).
Tenho um respeito tremendo por mim e por todos aqueles que sofre em “silêncio”, até mesmo por aqueles que sofrem por amor. Perder a companhia de quem se ama pode ser uma mutilação tão séria quanto à sofrida por alguém que perdeu um membro do corpo, só que no nosso caso, os outros não enxergam a parte que nos falta, e por isso tendem a menosprezar nosso martírio.
Vou com Shakespeare quando disse que “Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente”.
Eu termino este “desabafo” dizendo que nada se compara à dor de termos nosso destino alterado para sempre. Atualmente, no mundo existem 17.839 milhões de pesquisas sobre Distúrbios do Movimento, quando tive acesso a esta informação, eu fiquei em êxtase (eu estava ainda sobre o efeito da toxina botulínica), hoje, 06/04, estou em crise, eu sempre fico meio surtada no MEU famoso mês de “sacrifício” e entrou em ação “a faca de dois gumes“. Por isso hoje me peguei pensando:
SENHOR, SERÁ QUE ESTAREI VIVA ATÉ LÁ?
SERÁ QUE VAI ADIANTAR DE ALGO, E SE JÁ FOR TARDE DEMAIS PRA MIM?
SERÁ QUE TEREI FORÇA?
ERÁ QUE CONSEGUIREI EQUILÍBRIO PRA ESPERAR…ATÉ ALGUM SER DE LUZ DESCOBRIR UMA FORMULA, UM JEITO DE TIRAR ESSA DOR QUE ME ENSANDECE, SERÁ?!
E VOLTO E REPITO MEU PENSAMENTO, SERÁ QUE HÁ TEMPO PRA MIM? Pois gente, eu confesso que nestes momento eu fico bem egoísta, não me alivia nada saber que irá ajudar outros, sendo que EU não estarei entre ELES.
Aprendi com a minha analista que eu não tenho que ter vergonha das minhas emoções, que eu posso e devo SIM falar quando estiver com vontade, aprendi a falar de mim e sobre mim. Eu acho normal chegar em alguém e dizer; eu não gosto de você, mais te respeito. Assim como também não tenho vergonha de dizer te amo, quando realmente gosto de alguém. Tenho uma amiga chamada Isa e ela diz que sou muito estressadinha (hehehe). Então, estou me policiando e aprendendo a calar…mas nem sempre tô a fim de fazer isso e chuto o balde, venho aqui, como hoje, e desabafo. Sou sortuda, pois tenho amigos com quem conversar, sei que vão me entender, é piegas mais vou dizer: tem momentos que você PRECISA conversar com um IGUAL, pois só quem tem distonia entende você. Né!!
Assim, tiro de mim a sensação de que não sou compreendida.
Então é isso, pronto, desabafei! Se posso deixar uma dica aqui é a seguinte: FALE, FALE E FALE MAIS, TIRE ESTE RANÇO DE VOCÊ, TIRE DE DENTRO DE VOCÊ A MAGOA POR SER, POR VEZES, INJUSTIÇADA(O) E MAL COMPREENDIDA (O). LEMBRE-SE: VOCÊ NÃO ESTÁ SOZINHO, ENTRE EM UM GRUPO DE APOIO , NAS REDES OU DO WHATS, SÓ NÃO FIQUE CALADO, NÃO SE ISOLE.
#dorcompartilhadaédordiminuida #distonia #distoniasaúde #JuntosPodemosMais
Em tempo: este texto é meu…Minhas palavras, minhas ações, minhas emoções, hoje não estou conseguindo “dribla-lás”.
Meu nome é Nilde Soares, um ser que foi chamado pra uma batalha, mesmo sem ter se alistado.
Bom fim de semana, pessoas!